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Se trabalhar fosse bom, ninguém era patrão.

Vitaminas para a memória Anterior Seguinte

Vitaminas para a memória

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#Object

Um serrote, um martelo e memórias. É tudo o que me resta do meu avô materno, de seu nome António.
Não posso dizer que tenha sido um homem de uma profissão, porque ele teve muitas e sabia fazer um pouco de tudo. Trabalhou numa mina, trabalhou numa empresa de cordas, foi pedreiro, foi carpinteiro, foi pintor, foi agricultor... Era um homem dos sete ofícios. Seja o que fosse preciso fazer, ele fazia ou inventava alguma forma de o fazer. Contudo, acredito que aquilo que ele mais gostava de fazer eram os trabalhos em madeira. Não fazia peças decorativas e com grandes adornos, fazia peças práticas. Se fosse preciso construir algo, uma prateleira, uma porta, uma vedação, um galinheiro, ... ele ia para a sua oficina e construía-a com o material que tivesse disponível na altura. Podia ficar meio tosco, mas ficava funcional. Uma prova disso era a sua casa arrendada, que à medida das necessidades e das possibilidades, foi construindo novas divisões ao longo da vida. No final já tinha uma habitação que era praticamente o quadruplo da área original da casa. Tudo feito só por ele e maioritariamente em madeira.
Hoje em dia este serrote e este martelo já não possuem grande utilidade prática. Eu não serro nem martelo, mas funcionam como vitaminas para a memória, para a minha memória. Enquanto a memória existir, nada morre.

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  Informação técnica

Fotografia N.º: 3146
Publicação: 2017-11-28
Grupo: Objectos
Câmara: NIKON D90
Abertura: f 4
Distância focal: 50 mm
Velocidade do obturador: 1/500 sec
Flash: Não Disparado

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  Comentários

Existem 15 pontos de vista. Quem será o próximo?
JWOSLLMMAAERRMM
01
J
Janita
em 2017-11-28 12:24:44

Preciosas vitaminas! Revigoram a alma em profundidade... ADOREI!..
O meu avô materno, João Baptista, era muito parecido com o do Remus... pessoas de boa cepa... que deram boa semente!!! :)

02
W
Willem
em 2017-11-28 14:41:46

Hahaha, great job done and photographed.

03
O
Omid
em 2017-11-28 18:48:26

Amazing!!!!!

04
S
Steven
em 2017-11-28 19:31:17

What a thought-provoking narrative!! Thank you for sharing!

05
L
Lis
em 2017-11-28 20:02:20

Adorei o texto nostálgico e a bonita forma de ver o martelo e serrote como 'vitaminas para a memória'
Muito bem pensado_ são as pequenas lembranças que ficam que alimentam a memória.
E me mostra um Remus sensível e amoroso_ lembrar os avós é muito terno.
deixo os abraços.

06
L
L Reis
em 2017-11-28 20:08:40

E era assim mesmo. Dantes as pessoas sabiam um pouco de quase tudo e, agora, alguns sabem muito de quase nada e outros nada de quase tudo.
Quando abri a fotografia pensei que ia ter que me "aborrecer" mais uma vez e dizer uns disparates para disfarçar, mas afinal não. Nesta não posso disparatar. É um post de uma ternura imensa e esta ideia de os objetos, que guardamos, poderem ser vitaminas para a memória, é uma delícia. Olhando para esta imagem (que foi muito bem pensada e resultou em pleno) dá para perceber que este avô não se limitou a passar pelo mundo e, quem assim celebra a sua memória, relembra-nos o verdadeiro significado da palavra herança.

07
M
Manu
em 2017-11-28 21:11:28

Nunca pensei que umas vitaminas me emocionassem tanto!
E não é que me contagiaste?! Lembrei-me do meu pai, que também sabia fazer de tudo um pouco.
Uma foto muito bem escolhida para falares e recordares o teu avô.
Parece que sou bruxa, o Remusinho(como diz a Janita?) é muito sensível. Lembras-te do 2? :P :)

08
M
Martine Libouton
em 2017-11-29 09:27:11

Très beau ce B&W . J'aime beaucoup ta composition!!!!

09
A
Ana Lúcia
em 2017-11-30 23:18:08

Compreendo-te.
Um abraço.

10
A
Alex
em 2017-12-01 19:38:28

tb tenho dessas memórias... e que engraçado que aqui por casa tb se encontra um serrote e um martelo... mas tb plainas, e outras tantas coisas... são memórias boas... não as percas

11
E
Elisa Fardilha
em 2017-12-01 21:31:34

Uma foto relíquia!
Recordo sempre o meu pai, lendo e escrevendo... era o que sabia fazer. Tinha mãos longas e magras. Penso que nunca pregou um prego...

Beijinhos.

12
R
Roadrunner
em 2017-12-10 18:10:51

E haja memória para recordar a memória!

Saudações!

13
R
Remus
em 2017-12-26 21:01:04

Muito obrigado pelas vossas palavras e visitas.

Willem, Omid and Steven: Thank you.
Martine Libouton: Merci.

14
M
Mario Gomes
em 2018-02-07 22:38:46

O Remus sempre na brincadeira e a brincar com coisas sérias acaba por escrever umas memórias lindíssimas, ternurentas que me deixaram com saudades do meu pai e do pai dele.
O meu avô era, também, muito dado à carpintaria caseira.
Ele próprio construiu uma cadeira em que o assento era de levantar e por baixo dele estava uma boa parte das ferramentas dele. Fechava a tampa/assento e voltava a ser uma cadeira normal.
O meu pai aprendeu a arte de sapateiro e tinha uma forma e restantes ferramentas para pôr meias solas quando tinha tempo.
Tratava do quintal, fazia vinho e fez uma mesa enorme (2,5 x 2,5 metros) onde estudávamos todos os dias de verão, no pátio, por baixo da ramada. Tivemos galinhas, coelhos, árvores de fruto e a tal vinha. Nos últimos anos de vida dedicou-se a construir bancos corridos para todos os filhos. Pequenos, grandes, pintados ou envernizados. A garagem era o seu refúgio nos tempos de reforma e queixava-se dos vizinhos, também reformados, que por lá passavam e paravam para minutos de conversa que ultrapassavam uma hora ou mais. Dizia ele que não o deixavam trabalhar. Foi motorista de camião mais de quarenta anos e acompanhei-o muitas vezes em muitas viagens a Guimarães, Vizela, Aveiro, Anadia, Valença e, algumas vezes, ao Algarve.

15
M
Mariam
em 2018-02-12 02:22:50

Maravilhosos registo e palavras, a trazerem-me também doces memórias do meu avô materno e da aldeia :)