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Se trabalhar fosse bom, ninguém era patrão.

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Forma de não desistir

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#Black&White

Parece um verbo idiota, este contrabalançar. Não seria mais correto pensar que as coisas simplesmente são ou não são e deveriam aspirar por todos os meios a essa clareza, ponto final? Contrabalançar dá a ideia de ficar a meio caminho, abdicando daquela inteireza que, contra ventos e marés, objetiva a nossa verdade. Soa a uma prática de equilibrismo existencial, um pé aqui e outro ali, o balanço de lá e de cá. É como se, em vez de lutar por uma unidade imediata, aceitássemos a divisão como ponto de partida ou como processo, condescendendo com a disparidade que nos coube e enredando-nos num jogo de compensações. É como se assumíssemos a nossa trajetória biográfica como alguma coisa que está e não está completamente nas nossas mãos, alguma coisa cindida que, ao mesmo tempo, dominamos e nos ultrapassa, determinando que viver seja, dessa maneira, uma incessante e dolorosa iniciação à arte do possível, sem passar disso.
Estranho verbo este, contrabalançar, que se diria esconder dentro de si a nossa capitulação. E, contudo, em muitas etapas da vida, contrabalançar é precisamente o contrário: é um necessário e desassombrado exercício de sobrevivência. É a única forma de não desistir de escutar e de dar legitimidade, nas condições reais que nos coube experienciar, não apenas àquilo que nos atinge exteriormente, mas também àquilo que emana de dentro de nós, a essa vida soterrada mas que nos pertence mais do que qualquer outra, porque é a expressão singular da nossa alma.

Texto de José Tolentino Mendonça, in "O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas".

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  Informação técnica

Fotografia N.º: 4389
Publicação: 2022-03-10
Grupo: Preto e Branco
Câmara: COOLPIX L29
Abertura: f 8
Distância focal: 4.6 mm
Velocidade do obturador: 1/160 sec
Flash: Não Disparado

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  Comentários

Existem 8 pontos de vista. Quem será o próximo?
LSAAMWRR
01
L
L Reis
em 2022-03-10 11:32:38

Neste contrabalanço onde alguns pisam as sombras, outros pisam a luz e outros preferem acomodar-se e deixar que os carris lhes tracem os passos a direito, acho que a única forma de não desistir é mesmo fazer fé na arte do impossível porque o possível está visto que não chega.

(Curiosa e inteligente análise do José Tolentino Mendonça)

02
S
Steven
em 2022-03-10 12:56:24

The perfect image to illustrate counterbalance with the view covered in equal amounts of shadow and light.

03
A
Ana Lúcia
em 2022-03-10 17:38:29

Quase sempre não temos hipótese, temos de continuar, porque desistir seria o fim...
Bonito momento citadino.

04
A
Ana Lúcia
em 2022-03-10 17:39:16

Adorei a tua mensagem. Liberdade para a Ucrânia!

05
M
Manu
em 2022-03-10 21:58:00

A vida é um vaivém entre sombras e luz, umas vezes saímos dos carris e somos levados por caminhos controversos, que contrariam tudo o que é normal.
Gostei deste caminho citadino

06
W
Willem
em 2022-03-11 20:00:00

Everything is beautiful.

07
R
Roadrunner
em 2022-03-14 23:41:05

E agora uma questão pertinente se impõe: o eléctrico vai ou vem? No Porto circulam pela esquerda ou pela direita? 🤔🧐

08
R
Remus
em 2022-05-27 21:04:16

Agradeço a todos que visitaram e deixaram comentários nesta fotografia.

Steven and Willem: Thanks.
Roadrunner: Já não sei responder se vai ou vem. Esse pormenor já não me lembro. No Porto, os eléctricos circulam nos carris. Não existe ir sempre pela direita ou ir pela esquerda... por vezes até vai no meio. :-P